19/01/18

"É fato que a cultura e a arte devem ser valorizadas cada vez mais." Fábio Pascoal


Em Cartaz é um grande projeto cultural que vai render muito assunto bom por aqui. Convido você a mergulhar no universo cênico junto comigo.

Para abrir com chave de ouro, conversei com Fábio Pascoal, uma das maiores mentes do teatro em Pernambuco. Ele participou recentemente do Festival no Chile, um evento internacional que traz inovações para a arte. Além do Festival, Pascoal falou um pouco sobre o cenário cultural em Pernambuco, comportamento do espectador e claro, nos deu uma palhinha do que será o FETEAG 2018. Estamos ansiosos!

Cyelen:  Qual o papel do teatro para a sociedade além do entretenimento?
Pascoal: Definir um papel para o teatro acho muito arriscado, pois são tantas as possibilidades de expressão através dele que acabaríamos reduzindo-o. Particularmente, tenho procurado me afastar cada vez mais do teatro didático, que procura ser afirmativo e que busca diferenciar o que é certo e o que é errado. Tenho buscado um teatro mais amplo e que possa estar sujeito a inúmeras leituras assim, acredito que desta maneira ele poderá estar mais próximo do homem, com todas suas contradições.

Fábio Pascoal no Festival Internacional Santiago a Mil 2018, no Chile

Cyelen: Como você analisa o cenário pernambucano para o teatro?
Pascoal: Temos acompanhado atentamente a produção teatral em Pernambuco e o que todos nós observamos é uma diminuição considerável na quantidade de espetáculos produzidos, principalmente no diz respeito a produção para infância e juventude. Atentos e preocupados com esse cenário, alteramos o edital de convocatória para participação no FETEAG e limitamos as inscrições, para a Mostra Estudantil, apenas para espetáculos direcionados a este publico especifico, com o objetivo de estimular e dar visibilidade a essas produções.

Cyelen: Tendo em vista uma série de polêmicas sobre algumas performances nacionais como a Performance do corpo nu feito pelo MAM. Na sua opinião, existe limite para a arte?
Pascoal: Vivemos uma época de extremismos e estamos imersos em uma onda conservadora mundial, parece que cada movimento de liberdade é sempre acompanhado por um forte movimento repressivo. Não acredito em limite para a arte, acredito sim nas leituras possíveis e individuais, que podem ou não carregar uma menor ou maior carga de eroticidade. O que poderíamos dizer da obra de Francisco Brennand, que foi censurada por uma ex-primeira-dama, que hoje é um dos símbolos da cidade do Recife?

Cyelen: Estamos em uma era digital, onde as pessoas buscam programação online, streaming. Esse novo comportamento social impacta o teatro ou não faz diferença?
Pascoal: Acreditamos que o teatro, como qualquer outro meio de expressão, deve estar atento aos novos tempos e tecnologias, e para isso deve estar em dialogo com estes dispositivos, buscando assim potencializar a sua realização. Um exemplo disto é o uso da tecnologia para transmissão ao vivo de espetáculos e atividades pedagógicas. Este tipo de atividade é o que pretendemos experimentar agora em março, a partir de uma parceria entre o FETEAG e a MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, durante a qual iremos transmitir, online, algumas atividades direto de São Paulo.

Miniatures do grupo françês Royal de Luxe apresentado no INBA - Internato Nacional Barros Arana

Cyelen: O teatro será pra sempre? Isto é, daqui a mil anos ainda o teremos?
Pascoal: Certa vez ouvi do grande amigo e artista Helder Vasconcelos, em seu depoimento para o DOC Lições de um Palco sem Fim, produzido pela Massangana Multimidia/FUNDAJ sobre o FETEAG,  a seguinte frase: “teatro é a arte do futuro, pois só no palco é que encontraremos o homem ao vivo, pois a vida será tão tecnológica, tão virtual, que só lá poderemos encontra-lo”. isso me marcou muito e sempre relembro com alegria e atenção.

Cyelen: Você esteve no Santiago a Mil, que é um grande Festival Cultural. O que esse evento proporcionou de acréscimo para você?
Pascoal: Acreditamos que é a partir de experiencias como esta, que nos possibilita contato com a produção teatral contemporânea mundial de ponta, que podemos ampliar o nosso olhar e aperfeiçoar cada vez mais a capacidade curatorial para o FETEAG, imprimindo ao festival um caráter renovador e em sintonia com a cena mundial. Ressaltamos que, grande parte da programação do FETEAG 2017, sucesso de publico e critica, foi resultado de nossa circulação por festivais importantes como o Santiago a Mil (em janeiro de 2017) e a MITsp - Mostra Internacional de Teatro de São Paulo (em março de 2017), que resultou na vinda de alguns nomes importantes no cenário mundial, como a sul-africana Ntando Cele, o congolês Faustin Linyekula e o coletivo alemão Rimini Protokoll.

Cyelen:  Teatro internacional. Quais suas impressões e comparações com nosso cenário cultural?
Pascoal: Essa é uma questão muito delicada, se pensarmos em termos de politicas publicas para o teatro, fomentos e outros investimentos, observo que estamos muito atrás de países do nosso próprio continente, como Argentina e Chile, onde existe uma produção muito mais consolidada. Por outro lado, acredito no potencial da artista local, mas vejo que existe um pouco de inércia na produção, uma repetição de velhos modelos e pouca inovação na cena local. Acredito muito na nova gestão da Fundação de Cultura, protagonizada por Lúcio Omena e Leonardo Salazar, que não estão medindo esforços para impulsionar e renovar a cena cultural da Cidade.

Manobra do espetáculo inglês As The World Tipped

Cyelen: Diante das novidades, o que podemos esperar para o FETEAG?  Algo que o público já fique na expectativa.
Pascoal: Apesar da grande dificuldade pela escassez de recursos, estamos programando uma grande edição para o FETEAG 2018, sob o tema Entre o Riso e a Náusea, vamos propor uma reflexão sobre o estado de fragmentação e de incerteza do homem contemporâneo, por meio de espetáculos nacionais e internacionais que se utilizam do cômico e do grotesco como recurso de denúncia e de questionamento dos valores sociais. Para esta edição, alguma produções nacionais e internacionais foram contactadas e já iniciamos o agendando de reuniões com possíveis apoiadores para garantir a sua realização. 

É fato que a cultura e a arte devem ser valorizadas cada vez mais. Vivemos em um momento em que o consumo, busca de crescimento financeiro tem ocupado nossas rotinas de tal forma que não nos damos o privilégio de experimentar a arte, coisa muita rica na nossa região.
Através desse espaço, vamos explorar cada cantinho proporcionado pela cultura, seja por pequenas inciativas ou grandes eventos. O teatro é uma das nossas grandes riquezas, espero que você goste dessa coluna e participe com a gente.


EM CARTAZ...

Tem muita coisa boa vindo por ai. Teremos dicas de espetáculos e informações no campo das artes cênicas na região.
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Vamos gostar muito da sua participação!

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