Em
Cartaz é um grande projeto cultural que vai render muito assunto bom por aqui.
Convido você a mergulhar no universo cênico junto comigo.
Para
abrir com chave de ouro, conversei com Fábio Pascoal, uma das maiores mentes do
teatro em Pernambuco. Ele participou recentemente do Festival no Chile, um evento
internacional que traz inovações para a arte. Além do Festival, Pascoal falou
um pouco sobre o cenário cultural em Pernambuco, comportamento do espectador e
claro, nos deu uma palhinha do que será o FETEAG 2018. Estamos ansiosos!
Cyelen: Qual o papel do teatro para a sociedade além do
entretenimento?
Pascoal: Definir
um papel para o teatro acho muito arriscado, pois são tantas as possibilidades
de expressão através dele que acabaríamos reduzindo-o. Particularmente, tenho
procurado me afastar cada vez mais do teatro didático, que procura ser
afirmativo e que busca diferenciar o que é certo e o que é errado. Tenho
buscado um teatro mais amplo e que possa estar sujeito a inúmeras leituras
assim, acredito que desta maneira ele poderá estar mais próximo do homem, com
todas suas contradições.
Fábio Pascoal no Festival Internacional Santiago a Mil 2018, no Chile |
Cyelen: Como
você analisa o cenário pernambucano para o teatro?
Pascoal: Temos
acompanhado atentamente a produção teatral em Pernambuco e o que todos nós
observamos é uma diminuição considerável na quantidade de espetáculos
produzidos, principalmente no diz respeito a produção para infância e
juventude. Atentos e preocupados com esse cenário, alteramos o edital de
convocatória para participação no FETEAG e limitamos as inscrições, para a
Mostra Estudantil, apenas para espetáculos direcionados a este publico
especifico, com o objetivo de estimular e dar visibilidade a essas produções.
Cyelen: Tendo
em vista uma série de polêmicas sobre algumas performances nacionais como a
Performance do corpo nu feito pelo MAM. Na sua opinião, existe limite para a
arte?
Pascoal:
Vivemos uma época de extremismos e estamos imersos em uma onda conservadora
mundial, parece que cada movimento de liberdade é sempre acompanhado por um
forte movimento repressivo. Não acredito em limite para a arte, acredito sim
nas leituras possíveis e individuais, que podem ou não carregar uma menor ou maior
carga de eroticidade. O que poderíamos dizer da obra de Francisco Brennand, que
foi censurada por uma ex-primeira-dama, que hoje é um dos símbolos da cidade do
Recife?
Cyelen:
Estamos em uma era digital, onde as pessoas buscam programação online, streaming.
Esse novo comportamento social impacta o teatro ou não faz diferença?
Pascoal:
Acreditamos que o teatro, como qualquer outro meio de expressão, deve estar
atento aos novos tempos e tecnologias, e para isso deve estar em dialogo com
estes dispositivos, buscando assim potencializar a sua realização. Um exemplo
disto é o uso da tecnologia para transmissão ao vivo de espetáculos e
atividades pedagógicas. Este tipo de atividade é o que pretendemos experimentar
agora em março, a partir de uma parceria entre o FETEAG e a MITsp - Mostra
Internacional de Teatro de São Paulo, durante a qual iremos transmitir, online,
algumas atividades direto de São Paulo.
Miniatures do grupo françês Royal de Luxe apresentado no INBA - Internato Nacional Barros Arana |
Cyelen: O
teatro será pra sempre? Isto é, daqui a mil anos ainda o teremos?
Pascoal: Certa
vez ouvi do grande amigo e artista Helder Vasconcelos, em seu depoimento para o
DOC Lições de um Palco sem Fim, produzido pela Massangana
Multimidia/FUNDAJ sobre o FETEAG, a seguinte
frase: “teatro é a arte do futuro, pois só no palco é que encontraremos o homem
ao vivo, pois a vida será tão tecnológica, tão virtual, que só lá poderemos
encontra-lo”. isso me marcou muito e sempre relembro com alegria e atenção.
Cyelen: Você
esteve no Santiago a Mil, que é um grande Festival Cultural. O que esse evento
proporcionou de acréscimo para você?
Pascoal:
Acreditamos que é a partir de experiencias como esta, que nos possibilita
contato com a produção teatral contemporânea mundial de ponta, que podemos
ampliar o nosso olhar e aperfeiçoar cada vez mais a capacidade curatorial para
o FETEAG, imprimindo ao festival um caráter renovador e em sintonia com a cena
mundial. Ressaltamos que, grande parte da programação do FETEAG 2017, sucesso
de publico e critica, foi resultado de nossa circulação por festivais
importantes como o Santiago a Mil (em janeiro de 2017) e a MITsp - Mostra
Internacional de Teatro de São Paulo (em março de 2017), que resultou na vinda
de alguns nomes importantes no cenário mundial, como a sul-africana Ntando
Cele, o congolês Faustin Linyekula e o coletivo alemão Rimini Protokoll.
Cyelen:
Teatro internacional. Quais suas impressões e comparações com nosso
cenário cultural?
Pascoal: Essa
é uma questão muito delicada, se pensarmos em termos de politicas publicas para
o teatro, fomentos e outros investimentos, observo que estamos muito atrás de
países do nosso próprio continente, como Argentina e Chile, onde existe uma
produção muito mais consolidada. Por outro lado, acredito no potencial da
artista local, mas vejo que existe um pouco de inércia na produção, uma
repetição de velhos modelos e pouca inovação na cena local. Acredito muito na
nova gestão da Fundação de Cultura, protagonizada por Lúcio Omena e Leonardo
Salazar, que não estão medindo esforços para impulsionar e renovar a cena
cultural da Cidade.
Manobra do espetáculo inglês As The World Tipped |
Cyelen: Diante
das novidades, o que podemos esperar para o FETEAG? Algo que o público já
fique na expectativa.
Pascoal: Apesar
da grande dificuldade pela escassez de recursos, estamos programando uma grande
edição para o FETEAG 2018, sob o tema Entre o Riso e a Náusea,
vamos propor uma reflexão sobre o estado de fragmentação e de incerteza do
homem contemporâneo, por meio de espetáculos nacionais e internacionais que se
utilizam do cômico e do grotesco como recurso de denúncia e de questionamento
dos valores sociais. Para esta edição, alguma produções nacionais e
internacionais foram contactadas e já iniciamos o agendando de reuniões com
possíveis apoiadores para garantir a sua realização.
É
fato que a cultura e a arte devem ser valorizadas cada vez mais. Vivemos em um
momento em que o consumo, busca de crescimento financeiro tem ocupado nossas
rotinas de tal forma que não nos damos o privilégio de experimentar a arte,
coisa muita rica na nossa região.
Através
desse espaço, vamos explorar cada cantinho proporcionado pela cultura, seja por
pequenas inciativas ou grandes eventos. O teatro é uma das nossas grandes
riquezas, espero que você goste dessa coluna e participe com a gente.
EM CARTAZ...
Deixa sua opinião, sugestão, critica: cyelen22@gmail.com
Vamos gostar muito da sua participação!
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