Hoje (dia 20 de Janeiro), é aniversário de um dos ícones e grandes mestres da cultura popular de Caruaru, no campo do teatro e das artes cênicas, principalmente no teatro de Mamulengos: mestre Sebá.
Sebastião Alves
Cordeiro Filho, nasceu em Sertânia em 1957, trabalhou lá como assistente de
obra, padeiro, fabricante de vinagre e aos domingos ajudava a mãe na plantação
de algodão. Mas sempre com o sonho de ser artista de cinema.
Em 1974 foi para o RJ
com o objetivo de juntar dinheiro pra comprar uma casa pra mãe, lá trabalhou na
construção do metrô da cidade. Voltou pra PE sem realizar o desejo, mas firme
no sonho de entrar pra vida artística, e Caruaru era Nova York pra ele.
Em Caruaru ele chegou
em 1979 pra trabalhar vendendo cigarros em um fiteiro e a partir daí foi
chamado para atuar na peça “Solte o Boi na Rua” de Vital Santos com o Grupo de
Teatro Ivan Brandão. Pouco tempo depois, se juntou a Companhia Feira de Teatro
Popular e circulou o Brasil com a peça “O Auto das Sete Luas de Barro” e teve
até uma peça de autoria de Vital Santos inspirada na sua vida chamada de “Olha
Pro Céu Meu Amor”, lançada em 1983.
“É por isso que as
pessoas se assustam um pouquinho com artista popular, porque além de ser feio,
ele é mais bonito do que você pensa” (mestre Sebá)
Mamusebá
Seu primeiro contato com Mamulengo foi em 1981 com a peça “A Noite dos Tambores
Silenciosos”, até que em 1985 ele cria o Teatro Garagem Mamusebá, na garagem de
sua casa.
A cultura popular tem
muito desse aspecto fantástico, fabuloso, muito comum na literatura de cordel
como vimos por exemplo no texto sobre mestre Dila. Sebá conseguiu criar e
materializar na linguagem do teatro de mamulengos, um ambiente inteiro de
fantasia pra deixar qualquer escritor desse gênero com inveja. Um ambiente onde
a fada dos sonhos se torna real, onde objetos inanimados ganham vida, nomes e
até personalidade. Nesse universo criado a partir da ludicidade cabe a entrada
de todas as idades, mas é voltado especialmente para as crianças - acredito eu
que por serem os seres mais capazes de enxergar a magia desse mundo.
No interior do teatro
de mamulengos existe vários personagens como o Benedito que sempre aparece
abrindo as apresentações:
"Eu sou o
Benedito de Lima
cravo das moças
alecrim das meninas
cabrinha muito jeitoso
A apresentação segue
na base do improviso também, com diálogosimprovisados e até alguns versos
como:
"um lindo ponto
turistico
uma igrejinha e uma
cruz
nesse momento eu
explico
pois o lugar me seduz
é de lá que eu vejo a
cidade
é o monte do Bom
Jesus"
O ambiente é iluminado
por 33 balões (mesmo número do tempo de vida, 33 anos de projeto), que ilumina
as crianças e o elenco de personagens: A Marieta, o palhaço Sucata, o palhaço
Clamobó, Ventania, Chiquinha, Lálá, Tenente Zeca Galo e o Benedito. E é
justamente essa turma que passa não só entretenimento para a criançada, mas
também conhecimento sobre a história e a cultura popular do "País de
Caruaru" (como diria Nelson Barbalho), e as crianças que acertarem as
perguntas sobre esse conhecimento passado ganham um presente, como um pião ou
um Mané Gostoso.
Além disso, o local é
todo habitado por esses personagens e referências das cultura popular como a
Casa de Farinha, a banda pífanos de mestre Vitalino, Frei Damião, Luiz Gonzaga,
casa de taipa, Lampião, bacarmateiros, e os ventrílocos: Marieta, Ventania,
Chiquinha, Filomena e o Tenente Zeca Galo que também fazem parte desse cenário
carregado de ludicidade.
Ou seja, o Mamusebá é
de fato um ambiente onde o próprio Sebá afirma: "Essas fadas de sonhos,
aqui para esse nosso universo, ele é real" e ainda diz "Aqui entra
com um sorriso e sai com dois". É um nível de magia ao nível das Crônicas
de Nárnia, onde dentro de um simples guarda-roupa existe um universo mágico
cheio de seres mitológicos dentro, e o Mamusebá é do mesmo jeito, não é uma
simples garagem e sim um mundo de magia com vários seres mitológicos que ganham
vida aos que se permitem enxergar. Um conto de fadas nordestino onde se dar
risada e aprende sobre arte popular, e a principal força motriz é o retorno dos
adultos que um dia foram crianças e hoje levam seus filhos. São crianças que
conheceram esse universo de Sebá um dia, cresceram, não perderam a
sensibilidade de enxergar desenhos em nuvens e hoje levam suas crianças também
pra esse mundo orquestrado pelo regente Sebá.
Hoje, no dia do
aniversário desse maestro da cultura popular e dos Mamulengos, o mestre das
"mãos molengas", o nosso maior presente é valorizar, preservar e
desejar vida longa ao Mamusebá e ao mestre Sebá.
E pra acompanhar a
agenda de atividades do Mamusebá, é só acessar a página deles no facebook nesse link
"alô alô
criançada
ta na hora do show
terminar
sejam bem vindos
menino e menina
os bonecos já vão
descansar"
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