20/01/18

Mestre Seba Alves do Mamulengo


Hoje (dia 20 de Janeiro), é aniversário de um dos ícones e grandes mestres da cultura popular de Caruaru, no campo do teatro e das artes cênicas, principalmente no teatro de Mamulengos: mestre Sebá.




Sebastião Alves Cordeiro Filho, nasceu em Sertânia em 1957, trabalhou lá como assistente de obra, padeiro, fabricante de vinagre e aos domingos ajudava a mãe na plantação de algodão. Mas sempre com o sonho de ser artista de cinema.

Em 1974 foi para o RJ com o objetivo de juntar dinheiro pra comprar uma casa pra mãe, lá trabalhou na construção do metrô da cidade. Voltou pra PE sem realizar o desejo, mas firme no sonho de entrar pra vida artística, e Caruaru era Nova York pra ele.
Em Caruaru ele chegou em 1979 pra trabalhar vendendo cigarros em um fiteiro e a partir daí foi chamado para atuar na peça “Solte o Boi na Rua” de Vital Santos com o Grupo de Teatro Ivan Brandão. Pouco tempo depois, se juntou a Companhia Feira de Teatro Popular e circulou o Brasil com a peça “O Auto das Sete Luas de Barro” e teve até uma peça de autoria de Vital Santos inspirada na sua vida chamada de “Olha Pro Céu Meu Amor”, lançada em 1983.

“É por isso que as pessoas se assustam um pouquinho com artista popular, porque além de ser feio, ele é mais bonito do que você pensa” (mestre Sebá)

Cartaz de divulgação da peça “O Auto das Sete Luas de Barro”
Em 2014 recebeu a medalha de Honra ao Mérito Compositor Onildo Almeida, em 2016, Sebá recebeu o título de Cidadão Caruaruense por reconhecimento do seu trabalho pra cultura popular, já em 2017 foi o homenageado do Janeiro de Grandes Espetáculos. Sebá participou também da novela da Globo “Velho Chico” e é o fundador da “Companhia Pernas pra Circulá” e do teatro de mamulengo Mamusebá, que hoje se encontra localizado na Estação Ferroviária.

Mamusebá, localizado na Estação Ferroviária

Mamusebá

Seu primeiro contato com Mamulengo foi em 1981 com a peça “A Noite dos Tambores Silenciosos”, até que em 1985 ele cria o Teatro Garagem Mamusebá, na garagem de sua casa.




A cultura popular tem muito desse aspecto fantástico, fabuloso, muito comum na literatura de cordel como vimos por exemplo no texto sobre mestre Dila. Sebá conseguiu criar e materializar na linguagem do teatro de mamulengos, um ambiente inteiro de fantasia pra deixar qualquer escritor desse gênero com inveja. Um ambiente onde a fada dos sonhos se torna real, onde objetos inanimados ganham vida, nomes e até personalidade. Nesse universo criado a partir da ludicidade cabe a entrada de todas as idades, mas é voltado especialmente para as crianças - acredito eu que por serem os seres mais capazes de enxergar a magia desse mundo.

No interior do teatro de mamulengos existe vários personagens como o Benedito que sempre aparece abrindo as apresentações:

"Eu sou o Benedito de Lima
cravo das moças
alecrim das meninas
cabrinha muito jeitoso
é venta chata e perna fina"



Imagem do espetáculo
A apresentação segue na base do improviso também, com diálogosimprovisados e até alguns versos como:
"um lindo ponto turistico
uma igrejinha e uma cruz
nesse momento eu explico
pois o lugar me seduz
é de lá que eu vejo a cidade
é o monte do Bom Jesus"

O ambiente é iluminado por 33 balões (mesmo número do tempo de vida, 33 anos de projeto), que ilumina as crianças e o elenco de personagens: A Marieta, o palhaço Sucata, o palhaço Clamobó, Ventania, Chiquinha, Lálá, Tenente Zeca Galo e o Benedito. E é justamente essa turma que passa não só entretenimento para a criançada, mas também conhecimento sobre a história e a cultura popular do "País de Caruaru" (como diria Nelson Barbalho), e as crianças que acertarem as perguntas sobre esse conhecimento passado ganham um presente, como um pião ou um Mané Gostoso.
Além disso, o local é todo habitado por esses personagens e referências das cultura popular como a Casa de Farinha, a banda pífanos de mestre Vitalino, Frei Damião, Luiz Gonzaga, casa de taipa, Lampião, bacarmateiros, e os ventrílocos: Marieta, Ventania, Chiquinha, Filomena e o Tenente Zeca Galo que também fazem parte desse cenário carregado de ludicidade.

Sebá e o ventríloco “Ventania”

Ou seja, o Mamusebá é de fato um ambiente onde o próprio Sebá afirma: "Essas fadas de sonhos, aqui para esse nosso universo, ele é real" e ainda diz "Aqui entra com um sorriso e sai com dois". É um nível de magia ao nível das Crônicas de Nárnia, onde dentro de um simples guarda-roupa existe um universo mágico cheio de seres mitológicos dentro, e o Mamusebá é do mesmo jeito, não é uma simples garagem e sim um mundo de magia com vários seres mitológicos que ganham vida aos que se permitem enxergar. Um conto de fadas nordestino onde se dar risada e aprende sobre arte popular, e a principal força motriz é o retorno dos adultos que um dia foram crianças e hoje levam seus filhos. São crianças que conheceram esse universo de Sebá um dia, cresceram, não perderam a sensibilidade de enxergar desenhos em nuvens e hoje levam suas crianças também pra esse mundo orquestrado pelo regente Sebá.


Hoje, no dia do aniversário desse maestro da cultura popular e dos Mamulengos, o mestre das "mãos molengas", o nosso maior presente é valorizar, preservar e desejar vida longa ao Mamusebá e ao mestre Sebá.

E pra acompanhar a agenda de atividades do Mamusebá, é só acessar a página deles no facebook nesse link

"alô alô criançada
ta na hora do show terminar
sejam bem vindos
menino e menina
os bonecos já vão descansar"

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